Economia circular: o consumo sustentável que faz um mundo melhor

O atual modelo econômico, baseado no tripé ‘extrair, transformar, descartar’ está no seu limite. Por isso, a economia circular é uma alternativa atraente, que busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade. Ainda que não exista uma definição única para o termo, nós entendemos que a circularidade da economia acontece quando os resíduos são pensados desde o início para se tornarem nutrientes em novos processos, novos produtos ou materiais que podem ser reparados, reutilizados, atualizados ou reinseridos em novos ciclos. E sempre com a mesma qualidade ou superior, ao invés de serem jogados fora.

Acreditamos na economia circular como uma maneira de tornar a produção, como um todo, mais sustentável. Mas, como sabemos que essa não é uma solução definitiva, adotar novos hábitos torna-se necessário e urgente, assim como estimular e praticar o consumo consciente e responsável, seja na vida pessoal ou profissional.

Vivemos em um momento importante no qual a economia, o meio ambiente e a sociedade exigem a adoção de ações melhores por parte das organizações políticas e privadas. Não é mais possível administrar novas empresas com base em velhas ideias. Mais sustentavelmente conscientes, as pessoas querem saber a procedência do que consomem, quem produziu, de que maneira e em quais condições. Nesse sentido, a economia circular é uma meta que envolve uma transformação profunda dos nossos modelos produtivos, que resultem na circulação dos materiais no máximo de seu valor em sistemas industriais integrados, restaurativos e regenerativos.

Falta planeta para tanto resíduo

Cada vez mais, as empresas entendem a importância de adotar essa economia circular no seu dia a dia. Afinal, ser uma empresa com hábitos e valores sustentáveis é muito mais do que reciclar seu lixo, utilizar copos de vidro ao invés de plástico, e não imprimir folhas de papel. É preciso ter consciência de que cada ato tem consequências e que todos nós somos responsáveis.

O problema com o pensamento linear é que o homem está, atualmente, extraindo muito mais matéria prima do que o planeta é capaz de repor. Para se ter uma ideia do problema, segundo o Banco Mundial, a população global deve chegar a 9,6 bilhões em 2050. Isso implica na necessidade de quase três planetas Terra para proporcionar os recursos naturais necessários para manter o atual estilo de vida da humanidade. Além disso, o problema do lixo tem se mostrado mais complexo do que parecia no início das atividades fabris. A poluição do solo e dos oceanos tem impacto direto sobre a vida no planeta e prejudica a biodiversidade.

Nesse cenário, para que a sustentabilidade seja efetiva é fundamental avaliar a destinação dos materiais pós-consumo. Afinal, jogar lixo fora não existe, já que ele vai ter que ter um destino no nosso planeta. Então, para iniciar essa transformação da economia linear em economia circular, é essencial que haja uma transição de hábitos e pensamentos das pessoas e da indústria para que utilizem materiais verdadeiramente recicláveis e reaproveitáveis. E também de cultivarmos a consciência do que descartamos para que o que já pode ser aproveitado vá parar no lugar certo, permitindo que, ao fim do uso, esse produto possa ser reutilizado, reciclado ou ressignificado, transformando-se novamente em matéria-prima e, não apenas, em lixo a ser descartado de qualquer forma no meio ambiente.

A boa notícia é que hoje muitas empresas, no Brasil e no mundo, já estão praticando essa economia circular, gerando produtos e serviços sustentáveis, que têm seu ciclo de vida estendido, gerando menos resíduos e menos custos para fabricantes e consumidores.

 

Insecta Calçados Marca de sapatos ecológicos e veganos feitos no Brasil, a empresa trabalha com materiais reaproveitados, desenvolvem estamparia própria em tecido feito de garrafas pet recicladas e utiliza embalagens que são fechadas apenas a partir de encaixes, viabilizando, assim, a total reciclagem do papelão e o uso de componentes químicos presentes na cola. Os produtos contam com o  selo eureciclo,  que certifica que a empresa faz a compensação ambiental de todas as embalagens produzidas. A empresa também oferece ao cliente a possibilidade de fechar o ciclo de consumo, devolvendo o sapato usado para reaproveitamento pela Insecta e recebendo, como incentivo, um desconto para a próxima compra.

C&A – Em 2017, a empresa anunciou o lançamento da primeira ‘coleção circular’, desenvolvida globalmente e colocada à venda em algumas lojas da rede e na loja online, com versões feminina e masculina, em seis cores cada. As peças foram desenhadas para que sejam recicladas ou reutilizadas, levando em conta seus usos ,futuros. A nova linha de camisetas, feita com 100% de algodão mais sustentável, usa apenas materiais seguros e confeccionadas de forma social e ambientalmente responsáveis. Além disso, em todas as etapas do processo produtivo houve reuso de água e foi utilizada energia renovável. Os modelos das camisetas foram desenvolvidos em parceria com o Fashion for Good, centro de inovação em moda e sustentabilidade estabelecido na Holanda por meio dos recursos cedidos pela C&A Foundation. A iniciativa faz parte da estratégia global de sustentabilidade da empresa, dentro do Pilar Produtos mais Sustentáveis. A estratégia conta, ainda, com dois outros importantes pilares: Rede de Fornecimento Sustentável e Vidas Sustentáveis.

Zippo- A fabricante de isqueiros Zippo tem uma política de garantia simples: ‘Funciona ou nós consertamos de graça’. De acordo com a companhia, por trás de cada produto que recebem para reparos existe uma pessoa que espera receber um isqueiro funcional. Independente de ter 5, 25 ou 50 anos, a empresa afirma que quer que seus isqueiros continuem proporcionando luz e fogo por muitos anos. É garantia da marca.

 

JANSPORT – Reconhecida mundialmente por suas mochilas para jovens e adultos, a empresa, fundada em 1967, oferece garantias vitalícia para todas as mochilas, pochetes e bolsas vendidas. Se o produto quebrar, é só enviar para a empresa consertar, ou, se não for possível, oferecer uma peça nova ou reembolso.

 

Coca-Cola – Utilizou a ideia de economia circular em seu aniversário de 100 anos, quando estabeleceu uma parceria com outra empresa, a Verallia, para derreter os vidros de suas garrafas. O material resultante foi usado para a criação de novas embalagens, demonstrando um reaproveitamento de 100% da sua matéria-prima.

Unilever – Parceira da Fundação Ellen MacArthur, a Unilever está convocando, há alguns anos, a indústria de bens de consumo a unir esforços para enfrentar o desafio crescente de resíduos plásticos nos oceanos e desenvolver uma economia totalmente circular para o material. Em 2017, a empresa tornou-se pioneira na garantia de que 100% de suas embalagens plásticas serão reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis até 2025. Em 2001, lançou o 1º programa de reciclagem, envolvendo indústria e varejo no Brasil, em parceria com o Grupo Pão de Açúcar. O Projeto, que soma mais de 100 mil toneladas de resíduos coletados, resultou, no período entre 2008 e 2015, em uma diminuição de 99,45% nos resíduos das fábricas. E em 2015, o escritório paulista da Unilever se tornou Aterro Zero, unindo-se às 15 fábricas presentes no Brasil.

 

Apple – Antes mesmo do termo ganhar vida, a empresa já agia com base na economia circular mesmo. Além de todas as lojas da empresa aceitarem produtos próprios para reciclagem gratuita, o programa Apple Renew oferece créditos aos clientes que levarem aparelhos de celular antigos comprarem aparelhos novos mais baratos.

Bom negócio

A economia circular tem um importante argumento a seu favor. Análise realizada pela consultoria americana McKinsey estima que a mudança para um modelo circular pode adicionar $1 trilhão à economia global até 2025 e criar 100 mil novos empregos nos próximos cinco anos.

De acordo com a Visão de Economia Circular 2020 proposta pela Waste & Resources Action Programme, a União Europeia pode ter um acréscimo de 90 trilhões de libras na sua balança comercial, e criar 160 mil novos empregos novos.

 

O setor industrial será, possivelmente, o que verá os benefícios mais rapidamente, dada sua dependência por matéria prima. De acordo com a McKinsey, certos subsetores da indústria europeia poderiam economizar até $630 trilhões anualmente em reduções de custo de matéria prima, até o ano de 2025.

Você sabia?

Em oposição à economia tradicional e linear, cujo lema era ‘extrair, produzir e descartar. Inspirado na lógica cíclica da natureza, o conceito de economia circular surgiu, em 1989, em um artigo dos economistas e ambientalistas britânicos David W. Pearce e R. Kerry Turner. Eles mostraram que a economia tradicional não levava a reciclagem em conta, legando ao meio ambiente um papel secundário, de simples reservatório de resíduos, ou seja, de depósito de lixo.

No meio ambiente, restos de frutas consumidas por animais se decompõem e viram adubo para as plantas, que crescem de novo e dão frutos que, por sua vez, servem novamente de alimento para os animais. Também conhecido como ‘do berço ao berço’, o conceito da economia circular trabalha com a ideia de que tudo pode ser continuamente usado e reusado em um novo ciclo. Aliás, para grande parte dos defensores da economia circular, um resíduo nada mais é do que uma matéria-prima fora de lugar.

Segundo a Ellen MacArthur Foundation, uma das entidades mais comprometidas com a promoção da economia circular pelo mundo, criada pela velejadora e recordista inglesa de mesmo nome, não existem resíduos quando os componentes dos produtos são projetados para permanecerem no ciclo desses mesmos materiais.

O que fazer com…

O que você faz com aquela camiseta furada, a calça que ficou pequena, a blusa que perdeu a graça? Algumas roupas podem ser encaminhadas para doação, mas uniformes, peças íntimas ou muito desgastadas precisam de outra destinação que não o lixo comum.

Veja como algumas empresas dão um destino mais útil e correto para esses resíduos.

Renovar Têxtil, por exemplo, retira das ruas 120 toneladas/mês de retalhos que iriam para aterros sanitários, fazendo com que esse resíduo têxtil vire enchimento, cobertores, feltros e mantas térmicas e acústicas para os setores automotivos, construção civil e decoração.

Já a Retalhar recebe uniformes usados e encaminha tecidos, botões e zíperes para novas aplicações.  E o Banco de Tecido  também recebe sobras da indústria têxtil e do mercado da moda. Pedaços íntegros de tecidos diversos podem ser comprados ou trocados por outros nas lojas físicas, que estão em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

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